quinta-feira, 3 de maio de 2012

Para gerar empregos de qualidade


*Artigo publicado no jornal Estado de Minas no dia 02/05/2012 - Caderno Opinião.

Dentre os diversos desafios que se colocam aos governos para geração de empregos de qualidade, talvez um dos maiores seja diagnosticar os problemas do mercado de trabalho. Sua dinamicidade, muitas vezes rotulada como imprevisibilidade, demanda um olhar estratégico e impõe ao Poder Público a necessidade de estar constantemente alinhado ao cenário econômico.

Em se tratando de mercado de trabalho, cada momento exige um ajuste específico, do intervencionismo à flexibilização, “aperta e daí afrouxa”. Nessa linha, é preciso exigir dos governos a atuação incisiva em duas frentes complementares: o diagnóstico tempestivo dos movimentos do mercado, e o estabelecimento de diretrizes que forneçam condições favoráveis à geração de empregos. É ainda fundamental reduzir o tempo transcorrido entre planejamento e execução, sob o risco de comprometer toda a efetividade da ação.

As leis e políticas de trabalho vigentes no país tem como base o contexto de séculos passados. Nesses idos, os dias se transcorriam sobre panos de fundo diferentes dos atuais. Em meados do século XX, surgiram políticas voltadas ao grande contingente de desempregados, notadamente às do Sistema Nacional de Emprego (SINE). Já no início dos anos 2000, o que se vê é um considerável crescimento da economia brasileira. Em consonância com o contexto nacional, Minas Gerais tem desfrutado dos sabores de taxas de desemprego progressivamente mais baixas e não raro novas empresas e investimentos são anunciados. Ao mesmo tempo, a Justiça do Trabalho amplia seus olhares aos direitos dos empregadores e já é possível questionar a pressuposição generalizada de hipossuficiência do trabalhador na relação de trabalho.

Fato que comprova o descompasso atual entre governos e mercado é o panorama das instituições de ensino superior no Brasil. Números oficiais do Ministério da Educação (MEC) apontam a existência de 1.145 escolas de Direito, 1.972 de Pedagogia e 2.079 cursos de Letras. Enquanto isso, continuamos com 399 faculdades de Engenharia Civil, 571 cursos de Sistema e Tecnologia da Informação e apenas dois cursos nas áreas de Petróleo e Gás. Além disso, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicou que o país tem um déficit de 75 mil engenheiros.

Diante desse novo cenário, o Estado não pode mais se eximir de questionar suas respostas às demandas de um mercado cada vez mais dinâmico e exigente. Nesse âmbito, o planejamento estratégico figura como iniciativa essencial para traçar caminhos que conduzam ao desenvolvimento econômico. Tal planejamento deve ser realizado considerando a um só tempo, leituras territorializadas do mercado de trabalho e objetivos de desenvolvimento regional, uma vez que cada localidade traz sua realidade singular.

O Governo de Minas conta hoje com instituições gerenciais capazes de levar a cabo o planejamento estratégico do trabalho e emprego. Não é difícil imaginar as mais de 130 unidades de atendimento da rede SINE em todo o estado como termômetros do mercado de trabalho local. As informações produzidas de forma descentralizada podem assim subsidiar diretrizes de governo e se transformarem em metas tangíveis, a serem rigorosamente monitoradas.

Em se tratando de políticas públicas de trabalho e emprego, é preciso questionar-se e avançar sempre, acompanhando e gerenciando as rápidas mudanças externas, sem perder de vista o objetivo último do desenvolvimento econômico. E é imperativo fazê-lo rapidamente, afinal os baby boomers estão se aposentando e a Geração Y chega ao mercado de trabalho, invadindo-o de forma impactante com demandas e visões de mundo distintas.

Gustavo Garcia Vieira de Almeida e Bruno Dias Magalhães
Assessores de Gestão Estratégica e Inovação na Secretaria de Estado de Trabalho e Emprego

sábado, 24 de dezembro de 2011

Reflexões viageiras

Não sei se todos sabem, mas ando mochilando pelo Sul do Brasil, desde o dia 13 de Dezembro, com meu amigo Calango Seixas. Iniciamos nossa jornada em Curitiba, capital ecológica, seguimos para a Ilha do Mel, lugar isolado cujo por do sol na praia do farol é um dos espetáculos mais fantásticos que já presenciei, cruzamos Santa Catarina até Bombinhas, vilarejo pacato e turístico, com belas praias de mar azul e algumas trilhas em mata fechada, e, por fim, alcançamos Balneário Camboriú, praia urbana muito agitada, destino comum aos paranaenses, gaúchos, argentinos e chilenos.

Hoje, dia 24 de dezembro, estou na histórica cidade de Blumenau, cujo centro preserva belos traços da cultura alemã, com arquitetura e nomes típicos, sem falar no saboroso chopp Eisenbahn. Agora a chuva cai fortemente, aliviando um pouco do calor que nos castigou desde o litoral paranaense. Como é véspera de Natal, aproveitamos para fazer um breve pit stop na viagem, descansar e, claro, refletir sobre o vivido e o aprendido até aqui..

Não raro escrevo sobre viagens, mas inevitavelmente escrevo em viagens.. Isso porque viajar é estar em contato com o diferente, forçar-se a sair da rotina e partir em direção ao novo. E o novo questiona, intriga, refuta, reafirma e depura os velhos hábitos e pensamentos.

Por esses caminhos, andei conversando e observando muita gente. Um francês que vive na Holanda e trabalha em um call center de companhia aérea apenas para conseguir descontos e realizar seus sonhos de conhecer diversos países desse imenso mundo, me contou sobre estranhos hábitos da Índia e da China. Um engenheiro florestal que trabalha em uma ONG de preservação do meio ambiente, me ensinou que tudo na natureza tem o seu papel, como o mangue, cujas águas barrentas e salobres são os leitos preferidos para a reprodução de diversas espécies de vida marinha. Um cientista da computação que vendeu sua empresa para realizar uma viagem de 3 anos mochilando pelo planeta, me contou que não há melhor sensação do que concentrar-se somente na via de escalada, trecho por trecho, rocha por rocha, pino atrás de pino, adquirindo uma consciência corporal capaz de te levar aos mais inóspitos cumes. Duas meninas catarinenses, formadas em Administração Publica, me mostraram o poder da amizade, que nos faz sentir em casa, mesmo estando a kilometros de distância..

No fim das contas, depois de viver todas essas coisas, deitado novamente em uma cama confortável, escutando a chuva que cai mais suavemente lá fora, me pergunto o quê finalmente elas querem dizer. Pra mim, tudo isso quer dizer que o mundo é muito grande, maior do que podemos imaginar se estivermos fixos a um só ponto. Nesse vasto espaço, pessoas de toda parte buscam meios para se encontrar, expressar-se, definir-se e se tornarem quem realmente são. Ao faze-lo, essas pessoas criam, isto é, deixam suas marcas no mundo, que gira, se transforma e já não é mais o mesmo que era antes. Ao fazê-lo, essas pessoas tornam de novo possível a esperança no homem, no amor, e a ilusão juvenil pode novamente vencer a crítica cética, como uma vez aconteceu na cinza Manhattan de Woody Allen.

O Mundo não está nos telejornais, nem nos canais de documentários. É preciso sair para vivê-lo e inventá-lo! Urge nos tornarmos quem somos! Na próxima semana, regresso à Belo Horizonte preparado para começar o ano de 2012, encarar-me e encara-lo de frente. Urge não perder um segundo sequer. Sei que nele repousam desafios e oportunidades, no amor, no trabalho, na família..

Mas o futuro não existe, é uma eterna promessa que se desmancha a cada segundo. Urge, por fim, torná-la real, passo a passo..



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